Marta Aparecida Rodrigues Vallandro

16/10/2018

                              "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo". Paulo Freire.

Nascida na década de sessenta, filha de pais lavradores, área rural da cidade de Avaré/SP, a primeira de mais 5 irmãos, família grande e feliz com a convivência com primos, tios e avós, em meio a tudo de bom que o campo é capaz de proporcionar.

Ao olhar minha história com a escola vejo que teve papel relevante na minha história de vida, visto ser determinante na pessoa em que me transformei, no pessoal, no trabalho, na família, no econômico e no social. O primeiro contato foi muito especial, lá na escolinha rural, bem ao lado do curral, na fazenda onde o pai trabalhava como " retireiro" ou seja cuidava do gado.

Ainda posso sentir a emoção do primeiro dia quando, Dona Iara, a professora linda, cheirosa e branquinha, veio nos receber na porta da sala, pois a escola tinha somente este espaço e um quartinho ao lado. Esta sala acolhia os alunos do antigo primário, e a professora atendia a todos, com diferentes idades e saberes. O tempo naquele espaço a mim sempre foi prazeroso, adorava aprender, brincar e a hora do lanche, esperado com ansiedade pois costumava trocar minha marmita (latinha de manteiga) com o lanche que a professora trazia da cidade.

O ritual diário na escola era de muita espera pelas 12 crianças, que compunham as turmas da professora Iara, que todos os dias se deslocava da cidade de Avaré, distante da fazenda cerca de 90 km, e o ônibus nem sempre chegava no mesmo horário, nesse meio tempo as brincadeiras eram alegres entre a meninada. A professora era recebida na porteira da fazenda e juntos caminhávamos até a escolinha para mais um dia de aprendizado e construção de possibilidades para cada criança, e que bom que pude fazer parte daquele tempo que me abriu as janelas do mundo.

Foram dois anos, e estava alfabetizada quando nos mudamos pra cidade, onde os pais esperavam encontrar melhores oportunidades de trabalho e condições pra educar os filhos. Então fui matriculada no primeiro ano da escola "Maneco Dionisio", colégio público e único, localizado bem próximo à praça central, do armazém do seu Rubens e a igreja matriz da cidade, prédio lindo e grande, onde cursei todo o primário e tive grata oportunidade de ser aluna da querida professora Flávia, a responsável por hoje, ser eu professora e ter uma filha com o mesmo nome.

Na década de 70 a família teve residência por dois anos na cidade de Rancharia/SP e por fim em Votorantim/SP, as mudanças sempre por conta do trabalho do pai, mas sempre priorizando a formação das crianças, tive oportunidade de cursar e concluir os estudos primário, ginasial e colegial em boas escolas públicas, que foram minhas portas para o mundo, pois as experiências ali adquiridas eram as únicas oportunidades de construção de uma vida diferente, daquelas tão comuns, na vida de quem têm origem pobre.

Nos anos 80, formação universitária particular como bolsista, e ótima oportunidade de diferentes aprendizados na biblioteca da faculdade, livros diversos à disposição e trabalhos feitos, como forma de ganhar algum dinheiro, me ofereceram formação para o ingresso na carreira docente. Todos deveriam ter acesso a essa fase da formação escolar, pois é o diferencial na expectativa profissional das pessoas.

Ainda estudante do último ano do curso de História, a colega de turma Astrogilda, me indicou como professora na escola "Antonieta de Lácio Osek" , periferia de Itapecerica da Serra/SP , e assim teve início minha carreira docente, em 1984 contratada, pela Lei 500 como era conhecido, viagens diárias, saída de casa de madrugada e volta à noite, o melhor momento as "aulas", onde eram esquecidas as mazelas pra se chegar até a escola. Em 1986 com aprovação em concurso público, ingresso na carreira do Magistério Público Oficial do Estado de São Paulo, escola Profª "Isaura Krugger", em Mairinque/SP onde leciono até a primeira remoção em 1988 quando venho pra cidade de residência, Votorantim/SP na escola "Wilson Prestes Miramontes" e depois tive oportunidade, via remoção, de trabalhar no "Daniel Verano", no "João Ferreira" e no " Azarias Mendes" como professora.

A carreira no magistério segue para o cargo de Diretor de Escola, através de concurso público e em 2002 assumi a Direção na escola "Francisco Marcicano" em Ibiúna/SP, e no mesmo ano fui removida para a escola "Antonieta Ferrarese" em Votorantim/SP, depois estive na escola "Evilázio de Góes Vieira" e finalmente o CEEJA.

Durante o período como Diretor de Escola surge a oportunidade, de alternância entre a Direção de Escola e a Supervisão de Ensino. Condição relevante na formação continuada, pois oferece campo especial de observação e estudos que propicia qualificação profissional como gestor educacional.

Por remoção em 2013, no cargo de Diretor, tenho a grata oportunidade de conhecer mais de perto a estrutura de funcionamento do Centro de Educação de Jovens e Adultos, CEEJA de Votorantim.

Reflexões sobre os objetivos da educação de jovens e adultos que tem seus alicerces na questão da inclusão daqueles, que por motivos diversos não puderam concluir as etapas da educação básica, assumindo caráter de reparação. Ainda o fato de ser espaço de formação permanente de qualquer cidadão que tenha a necessidade de se qualificar ou requalificar, para obter melhores condições de competividade no mercado de trabalho.

Observando a importância desta modalidade de ensino, na vida das pessoas, é que surge a vontade de registrar as histórias, daqueles que dão vida às políticas públicas, os professores, funcionários e gestores do CEEJA de Votorantim, que transformam histórias de fracassos em histórias de superação e sucesso, enquanto escrevem suas histórias pessoais.

E estas linhas contam um pouco da minha trajetória enquanto profissional da educação na Rede Pública do Estado de São Paulo, encerrada por aposentadoria ao final do ano de 2017.

Encerro minha carreira profissional com esperança de que nossos governantes priorizem a continuidade do projeto CEEJA, enquanto política de reparação e a educação básica como direito e condição estruturante da vida de cada cidadão e da democracia.

Votorantim, Setembro de 2018.

© Memorial do CEEJA 2018.
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